A Exame.com fez uma entrevista com Luciene Ricciotti Vasconcelos, sócia-diretora da W3 Comunicação, sobre o marketing infantil. Para ela, as crianças são muito suscetíveis aos apelos do marketing, mas não possuem dissernimento entre o "querer" e o "ter".
Segue trechos da entrevista:
- Como está a criança hoje em dia comparada a 10 ou 20 anos atrás?
Luciene Vasconcelos: De maneira geral, a diferença
está no volume de informações que a criança recebe hoje em dia, com
conhecimentos muito intensos e que não podem ser acompanhados
calmamente. A infância teve uma grande mudança também com relação à
ausência dos pais em casa, que acaba gerando uma culpa. Muitas vezes
eles tentam suprir isso com a compra de produtos. A característica da
infância de hoje é o menor contato da criança com os pais e a carga de
informações que ela recebe.
- Qual é a consequência dessa carga de informações?
Luciene: A criança não tem critérios para avaliar o que
é bom e o que é ruim. Ela precisa de um adulto ao lado para ajudá-la
nisso. Ela acaba absorvendo o conteúdo que recebe como verdade. É
preciso avaliar as coisas e a criança não tem esse perfil.
- Como a senhora vê a relação da criança de hoje com a propaganda?
Luciene: Muitas vezes a criança olha uma propaganda e
fala “eu quero”. É importante que os adultos saibam o que ela quer,
porque, como a criança não abstrai, quer aquele conjunto de coisas. Por
isso é comum ouvir os pais dizendo que deram para os filhos um brinquedo
que foi pedido e ele ficou largado em algum canto. A criança recebe a
informação no momento de formação dela, e, como não abstrai, acaba
querendo aquilo tudo o que foi visto, ou seja, ela quer mais a mãe
brincando no tapete do que o brinquedo que talvez ela nem tenha visto.
Muitas vezes a criança não quer apenas o produto, mas a integração.
- Quais são os apelos mais comuns do marketing infantil?
Luciene: Acredito que essa seja uma questão de
evolução e respeito. Já existe no mercado um grupo de pais bastante
significativo que está querendo um relacionamento com as empresas. A
empresa que vende para o público infantil e se dirige aos pais ganha
bastante. Na verdade, está faltando um pouco dessa questão do respeito.
- A criança tem um influenciador de compra muito grande, não é?
Luciene: Isso. Enquanto tivermos pesquisas apontando
que 80% dos produtos consumidos em uma casa são influenciados por
crianças, teremos um aumento muito grande da propaganda voltada para a
criança. Vemos hoje o marketing buscando entender as pessoas e
atendê-las. O que acreditamos é que, mudando o consumidor, naturalmente,
as empresas terão que mudar e isso se tornará muito mais saudável para a
criança.
- A partir de quantos anos a criança consegue desenvolver uma consciência sustentável, por exemplo?
Luciene: Isso acontece a partir dos sete anos. É uma
criança que já recebeu uma carga de informações muito boa na escola e já
está mais preparada. Ela precisa estar mais consciente de que o produto
na loja não é igual àquele que está lá na propaganda. Não que isso seja
mentira, mas mostra o produto, claro, de uma forma muito mais legal. É a
demanda que tem o poder de controlar a oferta. Nós temos que entender
isso. A consciência do consumidor é muito importante, tanto que vemos
estudos que mostram que, quanto mais elevada culturalmente é uma
sociedade, mais resistente ela é aos apelos da propaganda em si.
Para ajudar as pessoas a entenderem as mudanças no marketing infantil e o perfil das crianças, Luciene e Ana Maria Dias da Silva, psicóloga, escreveram o livro "A criança e o marketing". O livro fala sobre a necessidade das empresas venderam seus produtos e, a preocupação dos pais em não exporam as crianças a tanta informação.
Com certeza esse livro é de grande valia a quem trabalha ou irá trabalhar com produtos infantis.
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